terça-feira, 14 de setembro de 2010

As princesas de Erato I




Quando Erato aprendeu a dominar sua lira, decidiram que estava em tempo de que ela descesse para procurar o elo perdido, haviam muitas dúvidas a cerca de como a musa faria melhor uso de seus dons uma vez que lhe cabia a capacidade de extrair das pessoas aquilo que lhes fosse motivado pelos afeto fosse amor ou apego.

Quando Zeus e Mnemosine acharam que estava na hora da bela musa descer, chamaram Apolo, a quem a guarda da moça estava mais predominantemente confiada e lhe perguntaram, para onde achas que deve Erato começar seu trabalho? Nesse mesmo momento ouviu-se um estranho barulho de fogo e o carro de Marte parou numa brusca manobra na frente do Mouseion. Dele desceu a musa com sua lira pendurada por fios de ouro, tinha sandálias de ouro, e tudo nela reluzia.

Pulou no pescoço de Apolo que a rodopiou.
-Por onde andavas minha bela?
-Estava com Eros meu querido primo escolhendo sandálias e túnicas para melhor procurar o elo perdido, que achas dessas? Tenho coisas tão bonitas! Mas ainda não tenho casacos.
Caminhou até Zeus e Mnemosine a quem deu profunda olhada, pulou também no pescoço de Zeus e disse - Será que o senhor consegue pra mim um colar de estrelas anãs com Hera, quero tanto um lindo colar de estrelas anãs.
- Vou ver o que posso fazer bela musa.
E virando-se pra Mnemosine disse: - Mãe, muito cafonas essas suas roupas, fale com Harmonia, ela tem dicas ótimas. Mnemosine apenas riu, viu que Erato tinha muito de Apolo, que se havia de fazer.

Apolo tomou a frente da conversa e imediatamente sugeriu, minha bela musa terá uma importante tarefa, irá investigar tesouros reais em busca do elo perdido, onde haverá de ter mais apego e afeto do que entre reis e suas fortunas? Riram ele e a musa.Ela tem muito  jeito  para nobrezas, tesouros, reis, rainhas, príncipes e princesas haverá de fazer um bom trabalho.

Zeus lhe disse, lembre-se haverás de trazer registros de por onde andastes afim de que possamos investigar vestígios do elo, usa tua lira para obter o máximo de informações e investigue os tesouros com afinco, quanto mais souberes mais saberemos.
- Alea jacta est. Disse a musa, pra onde irei primeiro?
Vais visitar um reino não muito distante onde a rainha possui incontáveis anéis, um deles pode ser o elo perdido.
- Estou com o carro de Marte, disse pra Apolo, vamos logo, quero ver os anéis dessa rainha!
E assim foram.




Assim acompanhada por Apolo ela chegou ao primeiro reino, a rainha nunca sabia direito o que estava acontecendo pois vivia muito preocupada em contar  e recontar seus anéis tinha muitos e sempre que chegava a um certo numero era interrompida e recomeçava a contagem, de modo que passava a maior parte de seu tempo recontando seus tesouros, o rei estava  passando por uma difícil situação frente ao povo que governava que estava faminto enquanto a rainha passava os dias a contar seus lindos anéis.
Mesmo com essa situação aceitaram receber Erato no castelo, principalmente por que essa faria companhia a triste princesa que era filha deles e que andava cada dia mais triste tendo em vista que seus pais queriam que casasse e nenhum príncipe até aquele momento lhe agradara.
- Sejam muito bem-vindos disse o rei para Apolo e Erato
- Estou-lhe muito agradecido de receber nossa bela musa
- tenho certeza que ela será excelente companhia para minha filha que está sempre muito sozinha em suas atividades.
Detrás dele saiu uma princesinha cabisbaixa que se apresentou como Dália, Erato lhe apertou a mão e perguntou se ela sabia tocar lira.
A pequena princesa deu seu risinho pálido, mas um sorriso que há tempos ninguém via.

Erato e a princesa Dália passavam o dia envolvidas com liras, o rei providenciou uma para a filha para que pudesse tomar aulas com a bela musa, tocavam lira e adormeciam pelos bosques.
- Que tem de bom em seu reino? Perguntou para Dália
- Aqui quase não temos coisas boas, temos apenas o belo pântano e os anéis de minha mãe, que vieste fazer aqui?
- Procuro o elo perdido. Que está perdido e que ninguém sabe onde está.
- Quem o perdeu? Foste tu?
- Não. Ele perdeu-se antes de meu nascimento, mas cabe a mim e minhas irmãs procura-lo!
- Também procuro algo que não perdi.
Erato riu – um príncipe?
Riram.
- É disse a princesa um tanto entediada, pois é, um príncipe, para salvar o reino de meu pai e os anéis de minha mãe.
Riram.
Tocavam lira, passeavam pelo pântano, Erato dava dicas de como se vestir mais de acordo com sua posição e ela e a princesa ficavam muito próximas, Dália lhe ajudava a procurar o elo perdido entre o tesouro do castelo, interrogavam nobres e um dia foram ver entre o povo se não havia alguém entre os plebeus que soubesse onde estava o elo perdido.
Muito a contragosto a musa e a princesa colocaram roupas muito simples libertaram-se de suas jóias e foram beber vinho entre o povo.
Quando estavam pela terceira caneca de vinho e Erato já ensaiava subir em uma pedra pra perguntar se alguém tinha visto o elo perdido um rapaz se aproximou delas e perguntou cantarolante
Que fazem as rosas entre os espinhos? Procuram estrume paras converte-los em vermelhas pétalas e doces aromas?
- Procuramos um elo perdido, disse Dália.
- Pois estou perdido, e se eu for um elo?
- Erato disse- ô Elo, sabe tocar lira?
- aprendo rápido, disse o plebeu.
- como te chamas? Perguntou a princesa.
- Hanon, ao seu dispor bela dama, estou perdido e me encontraste, agora sou teu e terás de me levar.
Erato gostou de Hanon e deixou ele com Dália enquanto subia na pedra tocava lira e cantava assim.

Era um elo
E era muito belo
Foi um martelo
Quem lhe esculpiu
No dia da festa
Deuses embiagados
Tão distraidos
Que o elo escapuliu!
Quem terá visto
O elo perdido
Me conte agora
Onde foi que o viu
Como ele é
Não saberei dizer
Mas o reconheço
Assim que lhe ver.

Todos se embalaram com a cantoria de Erato e em pouco tempo a musa estava cercada de pessoas que mais queriam saber sobre o sumiço do elo do que propriamente fornecer informações sobre o seu sumiço.
Depois de muitas taças de vinho e muita conversa com Hanon a princesa Dáli pediu pra musa para voltarem ao castelo, e um pouco contrariada a musa que estava fazendo um grande sucesso com outros bebedores de vinho foi-se com a princesa, em companhia de Hanon
Que ia pelo caminho dizendo como era bela Dália e que certamente ele poderia ajudar a procurar o elo junto com elas.
- Que farão no Castelo perguntou Hanon.
- somos criadas da princesa respondeu Dália.
- Lamento por vocês pois esses nobres apenas sabem contar seu ouro enquanto o povo luta contra a fome.
Dália teve um leve rubor e pediu que Hanon fosse embora pois já estavam seguras.
Erato agradeceu e disse que ele por favor avisasse se soubesse algo do elo perdido e disse que ele tinha sandálias muito bonitas e que deveria arrumar um cavalo branco pois ficaria muito elegante se tivesse um, hanon agradeceu as sugestões e elogios e partiu beijando a mão de Dália.


Os outros dias que se passaram foram muito difíceis, pois a princesa não parava de pensar nas palavras de Hanon, principalmente em suas ultimas declarações sobre a família real.
Queixou-se tanto a Erato que essa resolveu ajuda-la e mandou um recado para seu primo Eros vir vê-la assim que possível.

Enquanto esperava que seu recado fizesse efeito Erato procurou a rainha e disse que pretendia ajudá-la na contagem de seus anéis, pois isso também lhe ajudaria  a procurar o elo perdido, uma vez que já tinha revirado todo o reino e faltava apenas verificar se ele não estav entre os seus anéis.
A rainha aceitou e disse que sua maior dificuldade era concluir a contagem e separá-los por afinidade, uma vez que sempre acabava misturando-os fosse por que tivessem diferentes materiais ou por que tivessem diferentes pedras.
Ouro e diamante, prata e rubi, ouro e ametistas, prata e esmeraldas. Sempre me perco e acabo colocando os rubis com as esmeraldas e deixando os diamantes espalhados.
- queria lhe perguntar: tem algum desses anéis que lhe pareça um estranho anel e que antes cá não estava?
- Não posso lhe dizer com segurança, posto que não consigo terminar de contá-los, sempre me perco na contagem , ou sempre constato que a classificação que escolhi para separá-los não era a melhor. E recomeço novamente de modo que não sei quantos anéis tenho e nem ao menos se já pude ver todos os anéis que tenho, além disso, o rei sempre me presenteia com anéis novos o que me obriga a sempre reiniciar a contagem.
- Por que não os conta simplesmente sem se importar com outros detalhes, podes assim contá-los e ao menos saberás quantos anéis tem e se tem algum que lhe é estranho e quem sabe um deles pode ser o elo perdido da corrente do destino.
- Tenho ouvido muito falar desse elo perdido, como por acaso ele é?
- Não temos ainda essa informação, mas eu como sou uma musa saberei quando encontrá-lo, mesmo sem jamais te-lo visto.
- Então permitirei que você me ajude com a contagem de meus anéis.
Assim puseram-se a contar e guardar os anéis em baús até que toda a contagem se concluiu após muitos dias e histórias sobre como cada um daqueles anéis foi parar nas posses da rainha histórias de  aniversários, arroubos do amor do rei, pedidos de desculpas, reinterações de afeto, lembranças de viagens, sempre que a rainha contava histórias pedia para ser acompanhada em sua narrativa pela lira de Erato que tocava prestando muita atenção pra ver se em algum lugar daquelas histórias havia indicio do elo perdido.
Finda a contagem Erato pode perceber que o elo perdido dos deuses também não estava entre as posses da rainha.
Quando chegou a essa conclusão Erato anunciou que em breve partiria o que deixou a princesa Dália ainda mais triste.

Além disso se abateu imensa tristeza também sobre a rainha, que sabendo seu numero exato de anéis lamentou ser o numero muito menor do que supunha e também o fato de que não mais havia com o que se ocupar tendo em vista que já havia contado todos os seus anéis.
Correu entre os súditos o numero exato dos anéis da rainha que era aumentado cada vez mais a medida que a noticia se espalhava, sendo assim, os súditos começara a ficar muito furiosos por que o povo carecia de suprimentos e a rainha nem tinha tantos dedos assim para por aquela quantidade absurda de anéis.
As investidas contra o castelo começaram e em pouco tempo urgia uma atitude foi Dália quem sugeriu para a mãe que a solução seria derreter todos os seus anéis de ouro e vender o ouro para salvar o reino, alem disso ela poderia ficar com as pedras e quando tudo estivesse bem, poderia fazer novos anéis com as antigas pedras.
Depois de muito lamentar-se a rainha aceitou, assim ela teria de recontar os anéis restantes e a sugestão lhe pareceu muito boa.
 
Não havendo no entanto nenhuma outra saída possível naquele momento  mandaram fundir todos os anéis de ouro transformando-os em uma bola que deveria ser convertida em benefícios para o povo.
 Esta bola foi colocada então no fundo do lago para que ficasse segura das investidas contra o castelo até que fosse encontrada a melhor negociação para ela.
Enquanto essa confusão acontecia, Eros encontrou-se com Erato num distante ponto do enorme jardim do palácio.
- Que queres priminha, estou super envolvido em minhas poções, só vim por que era um pedido seu, diga, diga, que preciso ir cuidar de minhas coisas. Tenho ainda alguns exércitos para visitar e coletar us ingredientes para minhas novas formulas.
- Podes ajudar Dália? Ela não tem pretendente, nem príncipe algum que queira desposa-la e como irei partir ela ficará ainda mais tristonha, quero ajudá-la.
- Sei quem é essa princesa é uma que não gosta de príncipe nenhum né?
- pois é! 
- Realmente cada dia mais difícil achar um bom príncipe lamentou Eros. Vou ver como poderei ajuda-la, volto em breve.
Abraçaram-se e se separaram.
Quando uma boa negociação para a bola de ouro foi feita, o rei pediu que Dália e Erato fossem até o lago pegar a bola de ouro quando lá chegaram no entanto não a encontraram, mas apenas um enorme sapo verde em cima de uma pedra.
- Bom dia senhor sapo disse Erato, podes por acaso nos dizer se viu uma bola de ouro por ai?
- Vi sim. Eu mesmo a guardei.
- Precisas devolve-la disse Dália, meu pai precisa dela para arrumar a confusão do reino.
- E eu o que ganho com isso?
- Nossa gratidão disse Erato.
- Ora pois está muito bem. E eu que farei com vossa gratidão? Acaso serve para aquecer, comer ou morar?
- E o que quer o senhor seu sapo em troca da bola de ouro.
- Não quero nada, quero apenas a bola de ouro e com ela hei de ficar pois a encontrei em meu pântano e o que aqui está é meu.
- Tens de devolve-la disse enérgica  Dália.
E o sapo pulou para o fundo do rio e desapareceu.

Erato soou sua lira e cantou

Que lagoa tão profunda
Dentro dela tudo está
Uma bola de ouro real
Um sapo a lhe ocultar
Com que mil palavras
Poderá ele escutar
Que precisa devolver
A bola que estava lá

E assim o sapo emergiu novamente e disse, quero ser um príncipe, melhor do que ter uma bola de ouro é ser um príncipe, me façam príncipe e eu devolvo a bola.
As duas ficaram muito impressionadas com a audácia do sapo e lhe disseram que não existiam sapos príncipes e que ele deveria contentar-se com sua condição de sapo e devolver a bola ou não sobraria uma só gota daquele pântano até que a bola de ouro fosse encontrada, palavras de uma irreconhecível princesa até então muito apática, que deixaram o sapo e Erato muito impressionados.
Muito irritada Dália jogou seu chapéu em cima do sapo e o prendeu para levá-lo até o castelo afim de que ele dissesse ao próprio rei que não devolveria a bola de ouro real.
Para surpresa das duas o sapo foi-se muito quieto dentro do chapéu.
Quando chegaram no castelo e o sapo foi colocado sobre a mesa do rei ele disse assim.
-Queres a bola de ouro e eu quero ser príncipe, ambos podemos ter o que queremos.
- Senhor sapo- disse o rei, esta bola de ouro pertence ao reino, nada lhe devemos, o senhor está de posse de algo e deve devolver.
- Senhor rei, encontrei uma bola de ouro em meus domínios e nela não há nenhuma indicação de pertencimento, logo, não hei de devolve-la a ninguém, tão somente troca-la, no seu caso por um titulo de príncipe.

Erato começou a estranhar a inteligência daquele sapo e pediu a todos alguns minutos a sós com ele para melhor negociar.
Assim que todos se retiraram o sapo em cima da mesa transformou-se em um belíssimo rapaz de vestes divinas.
- Eros!!!!!!! Sorriu Erato, que queres com essa confusão?
- Priminha querida, achei alguém que pode se casar com sua amiga princesa sem graça, é um rapaz que diz que admira muito a princesa, sempre a julgou muito bela e que de bom grado com ela se casaria não fosse ele plebeu e impossibilitado de casar com princesas e pelo que parece , se bem entendi há uma certa correspondência entre eles, que certamente deve ser desaprovada por seus pais.
- Mas onde queres chegar com esse papo de sapo?
- Bem você há de convir que um sapo querer ser príncipe é demais não é?
Erato riu afirmativa.
- Muito mais do que um plebeu virar príncipe, não concorda?
- Desculpe mais ainda não compreendi o desenrolar do seu plano.
- Agora você faz sua parte, diga ao rei que ofereça a mão da princesa aquele que encontrar a bola de ouro, que já está de posse de Hanon, convença-os de que é muito melhor que fazer vontades de um sapo.
Erato gostou tanto da idéia segurou na mão do primo Eros e deram muitos saltinhos. Eros tornou se transformar em sapo e quando todos voltaram para a sala Erato disse que o sapo estava irredutível e que melhor seria oferecer um premio a quem encontrasse a bola de ouro.
- Mas com que ouro pagaremos? perguntou a rainha
- E a princesa Dália para surpresa de Erato disse, farei esse sacrifício, façamos então de qualquer um príncipe, afim de que este sapo aprenda sua lição, ofereço minha mão para aquele que encontrar a bola de ouro que irá salvar nosso reino.
O rei e a rainha vacilaram, duvidaram, refletiram , mas tendo em vista as dificuldades que tiveram até aquele momento de casar a princesa, acharam que realmente aquela sugestão ia solucinar dois outros problemas, a falta de pretendentes da princesa e o sumiço da bola de ouro.
Foram feitos os anúncios e a titulo de disfarce foi esperado um tempo até que Hanon entregou a bola de ouro e desposou a princesa.
Depois Erato veio a saber que Hanon e a princesa já haviam combinado tudo desde que aquele e Eros se encontraram para as negociações, Eros sumiu antes de ser devidamente castigado como um sapo chantagista.

Apolo chegou durante o casamento para buscar Erato, que foi a madrinha, Dália lhe entregou uma linda carta declarando todo seu afeto e a rainha lhe deu outra carta contando toda a histórisa dos anéis que ela lhe havia ajudado a contar, lhe presenteando com um anel muito bonito, que Eros disse que deveria ficar com ele como pagamento por ter feito papel de sapo naquela história .  O que Erato achou muito justo, tendo em vista que o anel nem ao menos era de ouro.
Após tocar sua lira para os noivos Erato partiu para um novo reino já articulado por Apolo, onde havia um príncipe que acabara de herdar uma imensa fortuna, desconhecia suas posses e o elo perdido poderia estar com ele, era solteiro e Eros quis ir junto para conhecer o tal príncipe, mas Apolo o advertiu que não queria novas confusões, pois tinha certeza que ele tinha participação na história do sapo.
Assim Eros não pode ir junto, mas prometeu para Erato que em breve a encontraria.

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