E assim Eros e Erato seguiram em direção a floresta, caminharam por um tempo, até que ao longe entre estranhas flores brancas viram o coelho branco, deram um único passo e o coelho desapareceu por uma clareira na floresta, Eros saiu voando na direção do coelho e na subida uma de suas flechas caiu aos pés de Erato.
Ela ainda correu para onde tinha desaparecido o coelho mas parou, lembrou que tinha esquecido a cornucópia no castelo, tinha fome, seguiu caminhando com a flecha de Eros na mão, depois de muito caminhar pela clareia distraindo-se com a quantidade impressionante de lindas flores e imensas árvores sem frutos, viu um grande arbusto e no ponto mais alto deste uma única fruta muito vermelha, Erato tentou pega-la mas ela estava um pouco mais alto do que ela alcançava, assim auxiliada pela flecha de Eros, ela conseguiu espetar a fruta e come-la em apenas algumas mordidas.
Após comer a fruta Erato sentiu-se estranhamente forte, sentia seu corpo mudando teve medo, depois passou, tocou em si mesma e notou diferenças significativas, pensou que tinha desobedecido Zeus e que talvez aquela fruta tivesse lhe feito mal, ao pensar isso sentiu uma certa tontura e teria mesmo desmaiado se não tivesse visto o coelho branco escondido no meio dos arbustos de onde tinha vindo a fruta.
- Procuro a princesa Branca, o espelho me disse que devia segui-lo- disse ao coelho.
O coelho não respondeu nada apenas saiu correndo, seguido por Erato que correu muito e de repente viu-se despencando de um imenso despenhadeiro, a sensação de queda no entanto não a desesperava, era um tipo de alívio, sentia-se crescendo e ficando maior durante o despencar, antes de chegar ao chão foi socorrida por Eros, que ela notou também estava bem diferente, e muito parecido com o pai Marte, mesmo que rosto ainda lembrasse Afrodite.
Ele a deitou no chão e eles passaram tempo olhando para seus próprios corpos, Eros encaixou se em Erato e ela deixou-se abraçar colocando o rosto do deus entre o pescoço e o ombro, passaram horas desvendando as transformações nos próprios corpos e no corpo do outro, flores estranhas caiam sobre eles e Eros as colocava sobre Erato pagava-as de volta com a boca e jogava-as sobre os cabelos esparramados da musa, Erato sentou-se sobre o corpo de Eros para melhor se observarem, tocaram-se e buscaram diferentes formas de caberem-se um no outro. Como Eros falasse algo em tom muito baixo Erato encostou sua boca na dele para ver se tinha o poder de fazer as palavras entrarem pela sua boca, já que estavam descobrindo poderes inimaginados, passaram muito tempo passando segredos entre bocas.
Eros dizia
- Me sinto quente, muito quente- disse Eros na boca de Erato, quando lhe procurei encontrei apenas uma fruta mordida, pensei que poderia estar envenenada eu mesmo provei dela para saber o que tinhas
-É a fruta que colhi com tua flecha.
- Posso sentir, estas quase me queimando, encosta teu rosto em meu pescoço, sente, meu sangue que ferve.
- Nunca experimentei essas quenturas disse Eros, nunca havia sido tocado por minhas próprias flechas.
- Isso é o amor Eros?
- Nesse momento sinto que não posso me afastar de você, tenho vontade de dormir e acordar buscando bons encaixes para nossos corpos, disse dentro da boca da musa.
- Não consigo ver em ti nada que não tuas belezas, queria seguir contigo todo rumo da tua eternidade que não me pertence
- Quero tornar-te eterna para estares sempre comigo
-Funde-me ao tu corpo, quero ficar em ti.
- deixe-me beber todas as tuas palavras.
-Não sinto perigos contigo, se te abraço não há despenhadeiros
-jamais te deixarei cair.
Assim de boca em boca eles diziam suas aflições e brincavam com flores, jurando eternidades.
Estavam envolvidos nisso quando o coelho branco apareceu e disse no ouvido de Erato, deves vir comigo, deixe-o, lhe encontrarei quando estiveres só.
Erato estremeceu, apertou muito forte um Eros adormecido, e uma angustia tomou conta dela, olhou pra Eros e pensou no elo perdido, precisava encontra-lo, era o destino do mundo, era o seu destino, levantou-se tomou-a uma aflição, olhou pra Eros e o viu deformado, sentiu muito frio, tocou Eros e ele também estava gelado, acordou-o.
- Deixa-me dormir- disse o deus.
-Preciso partir- falou brusca Erato.
- Me aguarde depois iremos, deixa-me ter sonhos, só os posso ter adormecido
- Não virás comigo devo ir só.
- Sendo assim te espero enquanto sonho
- peço-lhe que parta, não quero mais vê-lo, você me causa muitos problemas, não desejo mais sua companhia.
- Erato deixa-me te ajudar, deixa que eu vá contigo, sou um deus posso lhe ajudar, estamos tanto tempo juntos, sabemos como somos, aceitamos nossos defeitos, deixa-me te acompanhar.
- Não insista, devo partir, tenho que cumprir meu destino, você não está nele, siga suas asas elas saberão pra onde lhe levar, vá experimentar suas flechas, temos que nos separar, precisamos saber quem somos agora, não nos caberemos mais.
Eros abraçou Erato e sentiu frio, a musa lhe escorregava, não cabia em seu abraço, ele sentiu e deixou-a ir, voou bem alto e sumiu no céu sem nem mais uma palavra.
Erato num imenso alívio saiu correndo para procurar o coelho, viu que ele a esperava em um caminho, ele corria muito e Erato vez por outra o perdia de vista, numa dessas vezes parou e ouviu o soar perfeito de uma lira, os acordes mais harmoniosos que já tinha escutado, seguiu o som ele lhe aquecia do frio deixado por Eros em sua partida.
Encontrou uma linda mulher sentada tocando.
-Olá! Disse a musa
- És muito bela disse a mulher
- Tua lira me trouxe até aqui.
-Gostas de Lira?
-Sei tocar?
-deixa-me ver tua lira
- posso tocar a tua?
E assim liras trocadas tiraram mil acordes, fizeram um som que inundou toda a floresta e já ia novamente Erato se esquecendo de procurar a princesa Branca quando perguntou pra linda mulher, como te chamas?
- Sapholyne e tu
- Erato, sou uma musa e procuro o elo perdido.
- Eu cá estou por que procuro belezas e me disseram que aqui vive a mais linda de todas as princesas, queria vê-la para fazer alguns bons versos para serem acompanhados por minha lira.
- Também a procuro.
- Já a encontrei, estou muito decepcionada.
- Por que?
- Não é tão bela quanto eu esperava da mais bela das princesas, já vi outras mais bonitas.
- Deves ter encontrado outra princesa, ela é a mais bela de todo o reino cheio de belezas.
- já a viste?
- Não.
- Como eu disse, não é bela, sei onde está posso lhe indicar o caminho, mas antes deixa que eu faça um poema pra tua beleza, fica junto a minha lira, e assim Sapholyne sussurrou um poema pra Erato e esta lhe retribuiu
Se em mim não há a deidade
Mesmo assim de mim desfruta
Que aqui do teu lado sentada
Vacilante entre a montanha e a gruta
eu sinto a brisa molhada que por nós se precipita
Se sabes meu gosto o ocultes
E te perca em meus mistérios
Canta-me então os teus versos
Feitos pra minha pena
Parto agora em destino
E aqui te deixarei,
Mas te prometo que em breve,
Pelo mundo te encontrarei.
Trocaram poesias, informações, mapas e prometeram se encontrar assim que possível, ainda segurando a mão da musa Sapholyne disse - Promete-me voltar?- minha lira precisa de ti!- disse-lhe ao ouvido- e a musa disse-lhe dentro da boca- e eu preciso de tua lira, engolidas as palavras, separaram-se e Erato já sabia exatamente onde estava a princesa Branca, só havia esquecido de perguntar por que ela não era bela ao ponto de inspirar um poema de tão boa tocadora de lira.
Caminhou ainda um bom pedaço quando viu o coelho parado em cima de um monte de folhas, correu na direção dele e quando o alcançou o monte de folhas cedeu sob os seus pés e ela caiu em um buraco.
Quando olhou ao redor estava sentada em cima de uma mesa rodeada por 6 pequenos homens e um casal, a mulher era muito branca tinha algumas manchas no rosto, usava roupas muito largas e um cabelo bem desarrumado, estava com a cara abaixada em um enorme prato de comida e mal olhou pra musa, mesmo que todos os outros estivessem olhando pra ela.
O rapaz que tinha o tamanho normal, tomava um vinho com a cabeça encostada no ombro da mulher, que levantando o rosto perguntou pra Erato:
- Então você é a musa que está me procurando?
- Princesa Branca? - Disse Erato quase num berro.
-Esperava que eu fosse mais bela suponho.
-Bem, você não se encaixa na descrição que me deram.
- Pois eu vou dizer uma coisa pra você musa, eu não sei de elo perdido nenhum, nunca fui em templo nenhum cultuar deus nenhum, não to afim de conversinha de concurso, faço o que eu quiser- parou, tomou o copo da mão do rapaz, bebeu, encheu o copo de novo, bebeu e assim fez até secar o jarro em cima da mesa.
-Continuando, não me encaixo naquele reino, não vou voltar pra lá, não agüento mais aquela conversinha de ‘olha tem uma espinha,oh, o que faremos, chamem os magos’, ‘Branca não coma isso’, ‘branca não tome sol’, ‘branca não chegue perto dos doces’, ‘branca você engordou’, ‘branca isso não são modos’, ‘branca você não está muito bonita hoje’, ‘viu a filha do duque não-sei-quem será mais bonita que branca’, ‘quem é mais bonita a rainha ou a princesa?’ ‘Olhe o vestidos de não-sei-quem são melhores que os seus!’ Cansei entendeu! Cansei! Vou comer só o que eu quero, vou me vestir como eu quiser, vou pra onde eu quiser. Pra que eu quero ser uma princesa se eu não posso nada? Entendeu musa, sei que você não tem nada com isso, mas aqui a gente se entende.
Meu amigo aqui é mudo, eu falo, ele escuta, ele não me julga, nos damos bem, ele é meu príncipe, não tem castelo nem cavalo, mas eu gosto dele. Meus amigos aqui também sofreram muito, cada um tem sua história, histórias muito tristes, foram expulsos, perseguidos, cada um com seu problema a gente se entende, quero ficar aqui! E se você quiser pode ficar tomar um vinho e comer algo, se não quiser pode ir embora! Só não tente me tirar daqui.
Erato respirou fundo, encheu um copo de vinho, tomou, tocou em sua lira a musica que aprendeu com a linda mulher da floresta, conversou um pouco com os anões, ouviu suas histórias, tinha decidido esperar a Branca se acostumar com a presença dela.
Assim todos foram pra o lado de fora da casa, fizeram uma roda pra dançar ao som da lira de Erato, riram e quando Branca já parecia bem calma deitada no colo de seu príncipe mudo Erato chegou perto dela.
-Sabia que sua madrasta está presa?
- Presa? Por que? Ela não faz mal a uma mosca
- Pelo seu desaparecimento.
- Quem está governando?
- O duque de Apple.
A princesa branca se levantou furiosa.
- Não acredito! Eles são os piores, a duquesa todos os dias ia me ver apenas para me dizer os erros que eu cometia, todos os dias, falando de meus vestidos, de minha pele, ela sempre soube que não tem chances no concurso, agora prenda a Madra, isso é o fim, sabe por que vim parar aqui, por que um dia num chá com as damas, ela me perguntou se eu estava lavando meu cabelo com laranja, por que ele estava um bagaço! Chorei muito, estava fragilizada com os últimos acontecimentos, meu pai lá verde e estático em cima daquela pedra fria. Minha madra inconsolável e aquela duquesa ali falando de meu cabelo e todos rindo, fugi! E agora eles se aproveitaram das ciscunstâncias! Ai! Odeio esse reino!
- Calma Branca,você disse que seu pai está verde em cima de uma pedra, achei que seu pai tivesse morrido.
- Ele está morto, está verde, foi colocado em uma caixa de vidro e está num mausoléu do castelo. Até que se apure o que lhe aconteceu, muita gente fala que fi envenenado, meu pai era muito bonito, ele era o homem mais bonito do reino, usava muitas coisas, tomava a poção de muitos magos, para conservar-se belo, não sabemos bem o que aconteceu, mas agora que você falou percebo tudo, foram os duques de Apple. Precisamos resolver isso logo, você não acha Dum?
E o príncipe mudo balançava afirmativamente a cabeça de enormes orelhas e sorria consdescendente! A princesa o abraçou apertado e disse – o que vamos fazer musa? preciso resolver isso, não posso deixar que o duque ocupe o lugar de meu pai e mais do que isso, não posso deixar a duquesa ganhar o concurso da mais bela!
- O que você sugere? perguntou a musa.
- Preparem-se todos, partimos essa noite para o castelo! Quando for de manhã já estaremos lá serão pegos de surpresa bem na hora do concurso!
Erato sorriu! Enfim as coisas ia se esclarecer. e tocou a musica de Sapholyne em sua lira.